5 de março de 2008

Silencio de Maria Gabriela Llansol

“"... eu nasci em 1931, no decurso da leitura silenciosa de um poema". Lisboa, 24 de Novembro. A herança paterna, presente "na verticalidade e na maneira frontal de olhar", e o legado catalão que lhe vem dos bisavós maternos, darão corpo de escrita ao nome Llansol.

Falecida esta madrugada, com 76 anos, Maria Gabriela Llansol destacou-se na ficção contemporânea pela originalidade de obras como "Os Pregos na Erva", "O Livro das Comunidades", "A Restante Vida", "Um Beijo Dado mais Tarde" e "Lisboaleipzig".


A maior prosadora portuguesa do século XX, alguém que não era uma romancista, sequer uma ficcionista no sentido tradicional do termo, por não caber nos parâmetros do género. Alguém que, como disse Eduardo Prado Coelho, está no ponto em que «a escrita salva, redime, sustenta o bruxulear de uma luz, abre a vacilação de um caminho, e a literatura, essa, já começou a ficar para trás».


Texto online
"O texto é a única forma de identificar o sexo e a humanidade de alguém porque, ó poeta estranho, o sexo de alguém, é a sua narrativa. A sua, ou a que o texto conta, no seu lugar. Assim o sexo será como for o lugar do texto.
Quando se deseja alguém, como tu desejas Infausta, e ela deseja Johann, é o seu lugar cénico que se deseja,
os gestos do texto que descreve no espaço
e chamar-lhe
precioso companheiro;
de mim, direi que fui uma vez enviado,
trouxeste a frase que nunca antes leras,
o meu corpo a disse, e não reparaste que ficaste com ela escrita."

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