23 de setembro de 2008

Alunos discriminados no aluguer de quartos

Os rapazes são desarrumados e borguistas, logo, maus inquilinos. Verdade ou mentira, é este o estigma que os impede de, chegados à Universidade, arrendar quarto com facilidade. 60% dos senhorios preferem raparigas.

No site da Federação da Universidade do Porto (FUP), 80% dos anúncios especificam que os destinatários das casas são as raparigas, apurou a agência Lusa. "Há senhoras idosas que arrendam um quarto na própria casa e têm alguma resistência em acolher um rapaz nos seus aposentos", observa Ivo Santos, da FUP.

"É claramente uma situação de discriminação", assegura Nuno Grandin, da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. "São fenómenos de algum preconceito, que projectam comportamentos estereotipados dos homens e das mulheres, em que elas estão mais associadas às lides domésticas e eles a comportamentos mais desarrumados".

Em termos legais, é uma situação complicada, já que muitas vezes estão em causa arrendamentos de habitações privadas onde vivem os próprios senhorios, que têm direito a escolher com quem querem viver. "As liberdades individuais estão acima de todas as outras", nota Nuno Gradim.

Os responsáveis académicos dizem tratar-se de discriminação e defendem que o problema está associado ao estereótipo comportamental associado aos dois sexos. "Os senhorios dizem que as raparigas são mais arrumadas, mas isso é discriminação. Somos todos estudantes", defende a coordenadora do Gabinete de Acção Social da Associação Académica de Coimbra, Ana Margarida. "Há mais quartos disponíveis para raparigas, numa relação de 60 para 40", insiste a responsável.

O problema agrava-se porque a oferta das cidades universitárias é inferior à procura. Em Faro, entraram este ano cerca de 1500 alunos e a universidade só tem registo de 200 quartos para arrendar, exemplificou Ana Sequeira, responsável pelo gabinete habitacional da Associação de Estudantes da Universidade de Faro. E alugar um apartamento é uma opção dispendiosa quando não existe uma rede de amigos com quem partilhar a renda.

Estes casos, acrescenta Ana Sequeira, redundam sempre em situações complicadas: no desespero, há quem implore ao senhorio para deixar ficar dois estudantes num quarto de um; quem peça para ocupar a sala; e quem não tenha alternativa a não ser ficar na pousada do Instituto da Juventude ou em pensões.

À dificuldade em encontrar um espaço para ficar, soma-se os preços cobrados pelos quartos. Neste aspecto, os filhos dos polícias são privilegiados. Por apenas 65 euros por mês - metade do que pagariam num quarto particular -, têm direito a viver em lares de estudantes dos Serviços Sociais, disponíveis em várias cidades do país. No total, são 126 camas em lares masculinos e femininos, distribuídos por Aveiro, Coimbra, Lisboa, Ponta Delgada e Porto.

Os Serviços Sociais estão a estudar a possibilidade de inaugurar instalações noutras localidades que tenham pólos universitários e cuja habitação ou valor de aluguer de casas esteja inflacionado.

Fonte: Jornal de Notícias

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