A Se tem problemas respiratórios e cardíacos crónicos e vai fazer um voo de longo curso deve consultar o médico e fazer alguns testes antes de embarcar. O conselho é do pneumologista João Carlos Winck, coordenador de um estudo levado a cabo por uma equipa da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto sobre o risco de hipoxemia (diminuição dos níveis de oxigénio no sangue) durante viagens aéreas.
Agora publicado no European Respiratory Journal, este trabalho permitiu concluir que este fenómeno acontece com frequência e pode constituir um risco nos voos de longo curso. Uma constatação que leva os investigadores a propor às companhias aéreas que estejam preparadas para fornecer oxigénio suplementar a viajantes com problemas respiratórios e cardíacos (as flutuações de oxigénio também podem influenciar a formação de coágulos). João Carlos Winck recorda, a propósito, um estudo prospectivo inglês que concluiu que 18 por cento das pessoas com doenças respiratórias avaliadas durante voos de longo curso apresentaram problemas respiratórios.Para a realização do estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, foram monitorizados os níveis de oxigénio de dez pessoas saudáveis antes da descolagem e durante as viagens, em 20 voos de longo curso e 18 de curta duração. Nas viagens que ultrapassam as quatro horas e atingem 11 mil metros de altitude, as condições de pressão assemelham-se às do cimo de uma montanha de 2500 metros. Neste tipo de ambiente, enquanto num indivíduo normal os níveis de oxigénio podem baixar cerca de 10 por cento e não se verificam problemas, noutro indivíduo com reservas de oxigénio baixas à partida as oscilações podem representar um risco, avisa o especialista, lembrando que há notícia de episódios de problemas de respiração, crises cardíacas e até mortes provocadas pela baixa oxigenação em doentes graves. Recorda, a propósito, o caso do actor espanhol Paco Rabal que em 29 de Agosto de 2001 morreu inesperadamente quando regressava a Espanha proveniente do Canadá, devido a uma insuficiência respiratória (sofria de enfisema pulmonar).
O pneumologista sublinha, porém, que estes casos são raros e que apenas pretende alertar os doentes para a necessidade de consultarem o médico antes de viajarem. "Não faz sentido que entrem em pânico", frisa.
O estudo permitiu ainda perceber que os níveis de oxigénio baixam mais durante determinadas actividades - as refeições, as deslocações dentro do avião - e especialmente nas casas de banho. Winck defende que as companhias aéreas devem estar precavidas com oxigénio suplementar e que é aconselhável que disponham de oxímetros, aparelhos que se colocam num dedo e medem a oxigenação do sangue.
Estimativas indicam que, dos mil milhões de pessoas que viajam todos os anos, cinco por cento sofrem de doenças crónicas.
Fonte: Jornal Público
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